Queria musicar minha vida, a fumaça que sai lentamente da minha boca, o entrar e sair das teclas que aperto agora, a tristeza que é tanta e que me inunda como o cantar de cigarras loucas.
Queria não falar tanto de mim, mas não consigo achar quase ninguém no fundo do MEU poço, afinal por que raios haveria alguém aqui, no meu úmido, frio e sufocante poço? Já imaginaram coisa mais sufocante do que enxergar a saída sem nunca conseguir realmente sair? Diria à minha Estrela-Verdade que ainda estou entre 2:18 e 2:47 de Toccata & Fugue de Bach. Ainda me debato porque hoje acho que morrer olhando o céu do fundo do poço é a versão plebéia do que as janelas representam para as personas de Kafka, mas não quero, nem tenho clareza para explicar isso agora... Perguntem ao Pondé, aprendi naqueles seus Ensaios dos Afetos, Contra um Mundo Melhor. Não gosto de sempre lembrar disso porque não li nada além dos ensaios do Pondé e o último, Guia Politicamente blá, blá da Filosofia, me sou muito apocalíptico, afetado, agressivo, do fundo do poço... E o assunto nem era o Pondé que ao começar a escrever estes ensaios, tão perfeitamente ligados a realidade, ou acaba numa Despedida em Las Vegas, ou acaba como mentiroso, sei lá.
Também não quero pensar sobre o Pondé, ou sua mania, porque pensar sobre cada hipocrisia sórdida reinante em nosso cotidiano, como ele fez, a mim seria impossível, um montão de comprimidos finalizaria o meu trabalho, morreria.
Queria musicar minha vida justamente para não ter que pensar tanto nela, e para que ela não restasse tão imóvel, tão pútrida, Templo de Ártemis enfim engolido pelo pântano, irrecuperável mas inesquecível. Fantasma colado às paredes, às coisas.
Queria mesmo deixar de ser tão narcisista, mas no momento é impossível.
Ando perseguindo o Sol pela casa, abrindo cortinas, não janelas, porque estou tão cansada, mas tão cansada, e a tarefa é mesmo impossível, e não me decidi se tenho mesmo que lidar com isso.
Estrelas continuam aparecendo, tão, mas tão brilhantes, poços de criação contínua...
Elas me movimentam.
Queria musicar minha vida para que todo grito afinal saísse do silêncio, solto de mim, a criar comida para quem quer se alimentar, como fazem as Estrelas...
http://ladobspace.blogspot.com.br/2012/08/transleitura-rizomatica-tecitura-de.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário