sábado, 6 de outubro de 2012

Horror #3

Ele escapou dos meus dedos mais uma vez e agora provavelmente, perigosamente,voa pelas periferias de São Paulo com sua nave espacial, carérrima, chamativa, imponente. Estará morto???? Sempre penso que estará morto, na sujeira de um quarto de motel, roubado e morto, a facadas, picador de gelo, tesouradas, algo com muito sangue, muita humilhação.
Ainda lembro do dia que invadi o motel mais deprimente de Santos, ameacei chamar os Cops e entrei no lugar mais desgraçado da minha vida, duas putas já mortas por dentro, um estivador viciado e ele completamente incapaz de sair da frente do espelho, metafórica e literalmente. Sempre à procura dos mais desgraçados, para até com eles confirmar o quanto é superior e vítima de falta de atenção, coitado... Desfila rosários inteiros sobre seus feitos nas mesas dos meretricios, de como é excepcional profissional, excepcional filho e evidentemente excepcional companhia. Reúne logo, logo, multidões de esfarrapados e covardes em volta de si e a partir de então voa, voa... E o amor que tanto proclama para a mulher que ele considera sem ternura, fria, pessimista, e fantástica ao mesmo tempo, some como magia.
Estará morto agora?
Estará morto agora?
E por quê afinal, não liga o maldito celular?
Por quê raios eu deixo-me viver por um maldito idiota?

Por quê a cachorra, que espera por ele no corredor, pois é mais dele, tem que sofrer?
Doença do Carrapato, abandono paternal e loucura materna, por quê?
E por quê sou eu que tenho que zelar?
Por quê sou eu mãe de um homem mais velho que eu?
Afinal, será que morreu?
Estará morto agora?
Estará morto?
Quero saber para deitar meu túmulo ao lado.
Como disse antes, felicidade é sempre efêmera a mim.
Sou triste.
Ele me deixa em estado completo e ininterrupto de horror...
Ele me deixa em todos os poros a vontade de chamar o Barqueiro, pagar e ir.
Se ele for eu vou.

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