quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

#31

Olho para o teto do quarto que mantenho sempre sombreado, nunca ao sol, e penso na feira de amanhã, no cheiro de pastel e no ramo de flores brancas que trarei para casa. Além de todas as frutas e legumes que  puder enfiar no carrinho bonitinho, mas ordinário que não, nunca, escolhi. Só penso em comer, em urgentemente me nutrir, como se me faltasse o vermelho no corpo. Espero através da ávida e traidora boca absorver o inabsorvível alimento, que o louco amor, verme em mim instalado, pelo andar de qualquer carruagem, jamais poderá me dar... Sou toda mesmo imóvel no quarto sombreado, só posso ser, pois parace caber a mim, o punhal, a ferida e a horrorosa imortalidade. Havendo sangue por todo lado, permaneço sim, imóvel no quarto sombreado, pernas desengonçadas, cabelos loucos pelo travesseiro, olhos mortos ao léu, porém, tragicamente ainda viva, sencillamente te pregunto:
¿Cuantos piquetitos más?

Unos Cuanto Piquetitos,
Frida Kahlo.
 

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