Tirei fotos da máquina, que nem sei o nome, e que fura sem perdão o quê de concreto do moribundo. Ouço agora o angustiante tirar das ripas de madeira que o constituem, uma a uma, o píer chora, eu juro! Vigiei-o a noite, houve gente, adolescentes e bicicletas, a se despedir. Na vigília, não pude dormir direito e de manhã cedo quando a máquina começou a funcionar acordei mesmo tentando restar, mesmo sem levantar. O píer é como qualquer outra coisa que existe e morre lentamente... Estou triste por testemunhar, feliz por me despedir, mas vou ligar o som alto que as ripas, as costelas, arrancadas assim lentamente, gemem num murmurio insuportável, vermelho.
O píer morre e apesar de sua concretude, pedra e madeira que é, o devorar de sua existência é como de qualquer outro filho do Tempo.
O píer morre, é vermelho!
Lete cobra seu preço.
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